Variantes do vírus da raiva humana presentes em saguis são encontradas em morcegos no Ceará
26 de setembro de 2023
Pela primeira vez, foi encontrado em morcegos um grupo de variantes do vírus da raiva humana bastante semelhante ao das variantes detectadas em saguis do Nordeste brasileiro. O estudo foi conduzido com espécies de morcegos encontrados no Ceará. Em maio deste ano, o estado registrou morte por raiva humana após sete anos sem óbitos pela doença.
A análise de 144 amostras de tecidos retirados do cérebro de 15 espécies de morcegos foi realizada no Laboratório Central de Saúde Pública do Ceará (Lacen). Como resultado, a semelhança com as variantes encontradas em saguis acende o alerta para a dinâmica complexa de espalhamento e transmissão do vírus entre os hospedeiros.
O vírus da raiva foi encontrado nos morcegos de espécies que se alimentam de frutos (frugívoros) e insetos (insetívoros). Isso também chamou a atenção dos pesquisadores, pois os morcegos mais conhecidos como transmissores da raiva são os que se alimentam de sangue (hematófagos).
Coordenado pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM-Unifesp), o estudo foi publicado no Journal of Medical Virology. As informações são da Agência FAPESP. Com o resultado, os pesquisadores chamam atenção para uma fonte negligenciada de infecção pelo vírus da raiva humana, doença mortal que já fez 15 vítimas no Ceará nos últimos 30 anos.
Como foi feito o estudo
As amostras de tecidos do cérebro dos morcegos chegaram ao Lacen do Ceará entre janeiro e julho de 2022. Pelo programa nacional de vigilância epidemiológica, profissionais de saúde analisam mamíferos encontrados mortos ou com sintomas de infecção pelo vírus da raiva.
A partir das amostras, os pesquisadores extraíram o RNA dos vírus encontrados. Foi feito o sequenciamento genético para comparação com outras sequências de vírus da raiva depositadas em bancos de dados públicos.
O que foi encontrado
O primeiro conjunto de sequências genéticas era compatível com variantes do vírus da raiva encontradas em outras espécies de morcegos: os insetívoros Tadarida brasiliensis e Nyctinomops laticaudatus. O vírus havia sido detectado nestas duas espécies em 2010, na região Sudeste.
Um segundo conjunto trouxe um grupo de variantes do vírus encontrados pela primeira vez em morcegos: em duas espécies insetívoras e uma frugívora. Na análise, foi possível perceber uma relação evolutiva desse grupo de variantes muito próxima dos vírus que circulam nos saguis-de-tufo-branco, comuns no Nordeste.
G1
Foto ilustrativa CANVA PRO
